sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Se había perdido en su propia oscuridad.


Ela havia se perdido na própria escuridão. Perdia-se todos os dias num mesmo grito.
Um dia acordou, com os cabelos desgrenhados, e encostou os pés no piso frio. Eram três da madrugada, e soprava um vento gelado entre as árvores que se insinuava pela branca e fina cortina do quarto. Era uma casa de campo grande, isolada do caos urbano, no topo de uma colina bem verde. Durante o dia, assumia uma aconchegante conformação bucólica, mas à noite era simplesmente lúgubre, mas o tom depressivo daquelas sombras a encantava , e à medida que o luar entrava pela janela ela se sentia mais viva.
Porém, naquela noite, não foi assim. Os pés caminharam sobre o piso frio até em frente ao espelho da parede oposta à cama. Ela mirou-se sob a luz do luar que iluminava seus contornos. Seus dois grandes olhos eram duas circunferências brancas em meio à escuridão do recinto. Piscou-os uma vez , e então percebeu com assombro: estava perdida. Absolutamente perdida. Isolada do mundo, excluída dos próprios pensamentos, ela sentia como se fosse um corpo vivo, mas que o coração estivesse trancafiado em alguma outra parte. Ela não se encontrava. Sentia-se como se houvesse penetrado em um perigoso labirinto que a aspirava para um universo cheio de dúvidas. Cheio de receios. Cheio de revoltas.
Repousou uma mão sobre o espelho e notou que o calor da mesma produziu um pequeno contorno de vapor sobre o vidro. Sim, estava viva. Sim. Ela sonhava , mas eram sonhos de asas cortadas, sangrantes. Procurava desesperadamente praias com sóis que nunca se punham, auroras eternas, procurava encontrar pássaros feridos e poder curá-los e soltá-los um dia perto do mar, sorrindo. Procurava sujar as unhas de terra em jardins cheios de flores, lamber dedos sujos de sorvete numa rua qualquer, sorrir sinceramente com alguém, brigar pelo último gole de refrigerante, gritar músicas cafonas dentro de um carro, acordar querendo ver o sol nascer no lugar mais distante e ir com alguém, e gritar com alguém, e festejar com alguém.
Procurava ter os pesadelos mais pueris e os desejos mais loucos de infância, sentir os ouvidos de alguém ouvindo seu coração bater, procurava crescer, procurava saber como era a ilusão das cores. Queria pintar um arco-íris nos olhos de alguém, sentir o suor dele como se fosse tinta, que pintasse seu corpo, que concordasse em ir junto com ela aos mais depravados destinos, onde junto seriam dois perdidos, dois loucos, duas serpentes, duas gotas de sangue, duas crianças. Sonhou com os mais tenebrosos amores e os mais encantadores medos. Queria alguém que a ajudasse a consertar suas bonecas quebradas. Queria alguém que pudesse enxergá-la bem dentro de sua pupila.
E enxergando as próprias meninas chorosas de seus olhos, ela percebeu. Não estava perdida porque não encontrava seu caminho. Mas porque não havia encontrado alguém corajoso o suficiente para percorrê-lo com ela. Se sentía perdida dentro de su propia oscuridad. Se sentía perdida, hasta que él llegó con la luz en la mano.