quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Quando tudo era muito mais fácil



Antigamente era assim: se o mocinho estava a fim da mocinha, após muito observá-la , ele a convidava para dançar. Papo vai, papo vem, um drink pago ali , outro aqui, pintava um "clima", e ele pedia o telefone da garota. Ligava no dia seguinte, combinavam um suquinho na lanchonete, beijavam-se e pimba! começavam a namorar. Se você quiser, pode substituir o suquinho por um filme do Antonioni , no cinema. E eram felizes para sempre. Fim.

Hoje em dia é assim: se o mocinho está a fim da mocinha, antes ele analisa friamente se ela é atraente o suficiente ou se não é melhor ele investir nas outras mocinhas ao redor. Se ela for atraente o suficiente, ele vai conversar com seus amiguinhos e ver se eles aprovam a mocinha. Se eles aprovarem a mocinha, o mocinho pede para um de seus amiguinhos "chegar" na mocinha, porque ele tem medo de levar um fora na própria cara. Quando o amiguinho do mocinho chega na mocinha e avisa que o mocinho está a fim dela, ela faz um charminho e diz "aaah peraííí depois você vem aqui e fala comigo, vou pensar , tá?". Esse "vou pensar tá?" pode ser traduzido como "vou perguntar pras minhas amigas se elas não acham o mocinho um babaca vergonhoso" .
Depois das amiguinhas da mocinha aprovarem o mocinho, o amiguinho do mocinho volta a falar com a mocinha e ela diz que tudo bem, que vai ficar com o mocinho. O mocinho chega perto e começa a conversar com a mocinha , papo vai , papo vem , eles se beijam , ficam a noite inteira, com o mocinho e a mocinha procurando olhares de aprovações respectivamente dos amiguinhos e amiguinhas e na hora em que a mocinha vai embora, resta a dúvida na cabeça do mocinho: "peço o celular ou o MSN?" O mocinho, se pedir o celular, planta uma dúvida na cabeça da mocinha: "peço o celular dele de volta ou não?" . A mocinha então pede também o celular do mocinho.
Os momentos seguintes são de uma angústia maior que livro do Albert Camus. O mocinho, voltando da balada, é questionado pelos amiguinhos se vai ligar para garota. Ele responde um "aaahhhh duhhh hummmm... talvez" e seus amiguinhos dizem "aaah você não vai ser otário de ficar com ela né? amanhã a gente vai numa rave que vai bombaaaar de menina" e ele pensa "aaah... ligarei só um dia depois da rave".
Enquanto isso, a mocinha está tendo uma crise de NERVOS em sua casa. ELE VAI LIGAR OU NÃO VAI ELE VAI OU NÃO VAI ELE VAI OU NÃO VAI? Chora, desabafa com as amigas, fica irritada, faz rascunho de 3674638 torpedos , entra num dilema LIGO OU NÃO LIGO LIGO OU NÃO LIGO LIGO OU NÃO LIGO, e , num golpe derradeiro , ela liga para o mocinho no dia seguinte, às 23.30 da noite. O mocinho está no carro dos amigos a caminho da rave:
- Alô?
- Oi mocinho... é a mocinha da balada de ontem. Tá ocupado?
- Tô nada , fala . (música psytrance no último volume ao fundo)
- Tô ouvindo um psy loouuco aí... onde você tá?
- Pô, tô em casa, vou ficar aqui sozinho... fala gatinha
- Então, gostei de falar com vc ontem...
O mocinho percebe que a mocinha não está para brincadeira e que o páreo vai ser duro para se livrar dela. Para cortar logo a onda da menina , ele responde:
- Olha, que tal se a gente fosse amanhã prum barzinho, um cinema , o que você acha?
- Humm... acho legal !
- Então gatinha, eu tô ocupado agora resolvendo umas coisas pra minha vó, mas eu te ligo pra gente combinar , ok?
- Ok! beijo! tchaauu!

A mocinha ficou esperando o telefonema. Adivinha se ele ligou? Nããão. Sabe por quê? O mocinho contou do telefonema pros amigos e eles disseram : "Aveeee menina grudenta , você deu uns beijos nela e ela já tá assim? CAI FORA CARA!".
O mocinho não ligou, e a mocinha ficou louca de ódio, achando que não devia ter ligado para ele.
Um dia, quando o mocinho estava bêbado e encalhado , ele resolve ligar para a mocinha, só de farra, convidando-a para um bar. Com o ego ferido, ela nega o convite. Aí num dia que ela está bêbada e encalhada, ela se arrepende de ter negado o convite. Aí ela pega e manda um torpedo e então bláblálbálbál´bla´blawpjri4jio, o ciclo recomeça, bla´bla´bla´blálb , etc etc etc; Solidão, solidão, pegação, solidão, pegação, encalhamento perpétuo e angustiante.




E depois dizem que a modernidade simplificou as coisas.

domingo, 11 de novembro de 2007

Quem manda nessa porra?



Eu não escolhi viver em um regime capitalista, não escolhi viver numa cidade porca, não escolhi um senado sujo e corrupto pro meu país, aliás, nem sequer escolhi o país em que nasci. Quando garoto, não escolhi ser cristão, mas tive que fazer a primeira comunhão. Não sei se escolhi ter nascido, nem sempre escolhi as pessoas que conheci e outras queria muito ter conhecido, mas não sou eu quem escolhe quem deveria me conhecer. Tive uma sorte tremenda em, algumas vezes, ter por acaso o que não pude escolher, porém, também não queria ter passado por algumas coisas que não escolhi. Ignorance é mesmo blessed, no brain no pain. Qual a graça de viver em um mundo em que a sociedade matou o presente mais divino que recebemos, A VONTADE!

Porra! Eu sei muito bem o que quero, abraço a vida com paixão. Eu quero muitas coisas, vou tê-las, não quero nem saber se estão distantes, afinal, eu não escolhi a distância das coisas que eu quero. Por fim, posso até chegar a não querer mais nada, mas ainda sim, eu quis; pois, sem vontade, a morte é quem te escolhe.