sexta-feira, 28 de setembro de 2007

O pote de sorvete induz à solidão.



Tem coisa melhor do que chegar em casa super cansado da faculdade ou do trabalho e ir direto atacar um pote de sorvete?

Quadrado, enorme, 2 litros de puro prazer gelado.

Imagine-se num momento deprê: Você senta, sozinho, com aquele pote de sorvete e uma colher. Todo aquele sentimento de vazio vai embora por um momento, todo o sentimento de perda vai pro espaço, e o que se tem é uma sensação de preenchimento.

Quer coisa melhor que um pote de sorvete junto com uma sessão star wars num final de semana vazio na agenda?

Naquelas manhãs chuvosas detestáveis, abrir a geladeira e se deparar com um potão de sorvete prontinho pra ser devorado, parece que todo o cinza do dia vai embora e te deixa em paz.

Pode ser de flocos, hum, flocos, estalinhos na boca, crocante!

Pode ser de chocolate, morango ou creme, mas JAMAIS os três juntos, afinal, o napolitano não é um sabor aceitável, quando derrete é uma meleca de cor indefinida que pouquíssimas pessoas apreciam como se fosse um néctar divino.

A relação com o pote de sorvete é de companheirismo. Ele te dá todo prazer necessário, e ele só pede um pouquinho de atenção, pedindo pra que você não deixe derreter. Você não precisa de mais ninguém, só do seu pote de sorvete.

Mas cuidado, assim como num namoro, nesse tipo de relação um pode se tornar escravo do outro, e parar de ver pessoas, e passar a ter somente a companhia do outro, o que é muito prejudicial. Toda a vida social vai pro lixo, e você passa a viver em função do pote de sorvete, que pode inclusive te fazer engordar.

Aí, quando você estiver em depressão pós pote de sorvete, quem poderá lhe ajudar?

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Shortbus

Open your mind, and everything else.

Ontem fui assistir Shortbus no Festival do Rio. Fui com meus amigos e um deles tinha assistido o filme com a mãe, e disse que o filme era horrível. Antes de assistir li essa reportagem do Eduardo Simões na Folha ilustrada e tinha achado a ideia bem interessante, então foi com a "mente aberta" tentando não ser influenciada por opiniões alheias.

Depois da abertura sensacional do filme, logo nos primeiros minutos podemos perceber que esse não é um filme pra ser assistido COM A MÃE. Nem com o PAI. Cenas de nudez mais que frontal e sexo mais que explicito não é algo pra ser visto com parentes. A princípio, visto aleatoriamente, pode ser considerado um filme erótico, com cenas de sexo que pretendem chocar. Mas o filme não choca, as cenas de sexo são em sua maioria tristes, e são importantes pra trama.

Achei o filme bom, bem bom, nada extraordinário, não é vanguarda e nem vai mudar a sua vida. Minha amiga perguntou ao sairmos do filme: "Ok, qual a lição do filme?"
O filme não tem lição. E eu acho isso legal. Quem disse que todos os filmes tem que ter lição de vida? Filme é filme, é arte, não precisa ter lição, o que importa é ele em si, e não o que isso vai causar em você.

Pode ser que você vá e assista o filme e tire uma lição dele, e ele mude sua vida. Não foi meu caso, mas cada um tira a lição que quer de onde quiser, mas esse definitivamente não é o papel do cinema e nem da arte.

Então se você está curioso a respeito de Shortbus vá assistir, vale a pena, mas não leve sua mãe junto!

Trailer do filme:


quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Entrevista com Grace Gianoukas

Numa tarde de domingo, eu vasculhava o site do youtube quando me deparei com uma série de personagens hilários de uma peça chamada Terça Insana. Da curiosidade à paixão, foi um pulo.

Humor e crítica inteligente se misturam com precisão em situações do cotidiano, como a dificuldade vivida por uma idosa que sai de casa para ir ao banco pegar a aposentadoria, a esposa que não agüenta mais a inércia do marido ou a líder comunitária que esconde a comida para que a filha não coma tudo num só dia.

Acabei descobrindo que, na verdade, o Terça Insana é mais do que uma peça de teatro.

Idealizado por Grace Gianoukas, atual diretora artística, atriz e roteirista do show, o Terça Insana é um projeto que tem por objetivo provocar a produção de humor atualizado, crítico, inteligente, sem repetições ou piadas batidas e é também um espaço onde o ator é estimulado a escrever sobre o seu personagem. O projeto também mescla atores experientes e não tão experientes, e o efeito é algo totalmente novo e diferente do que você já viu por aí.

Tivemos a oportunidade de entrevistar a atriz e diretora do Terça Insana, Grace Gianoukas. Confiram!




Danielle: Você declarou que um dos pontos importantes do projeto Terça Insana é a atuação e o equilíbrio entre atores consagrados com atores ainda sem grande projeção. Como cabeça do time, já houve necessidade de gerenciar os egos?

Grace: Ôpa.... É claro que sim. Essa questão de egos inflados está em todos os lugares, em todas as relações humanas. Basta a gente olhar ao redor pra ver o chefe de família ditador, o irmão mais velho opressor, a mais bonita da escola que tem o nariz empinado, o professor prepotente-detentor único do verdadeiro saber, o publicitário do ano + tênis puma + arauto do consumo....
As pessoas que sofrem desta neurose, não tem uma imagem real sobre si mesmas, sua auto-estima é míope, ora se acham uma merda, ora se acham o máximo.
Tem gente que faz teatro porque é carente, quer ser aceito, quer ser querido e importante... Entra no projeto muito inseguro, muito humilde, mas insiste em fazer do seu jeito... começa errando, passa a prestar atenção nos comentários da direção, mas vai perguntar também pro ator mais aplaudido da noite, pro garçon ..etc..Um dia começa a entender que a direção está apontando caminhos estéticos que dizem respeito à linguagem, estilo e ideologia do projeto...Ai acerta um dia, acerta noutro, ganha muitos aplausos do público, elogios do garçon, sorrisos de fãs...as portas se abrem nos eventos vip, todo mundo quer come-lo, Ele é um sucesso não tem mais que se submeter as orientações ridículas desse diretorzinho burro....e parte em carreira solo, certo de que seu nome atrairá ordas de público e de que sem ele o projetinho que acabou de deixar sucumbirá.....
Tem diretor que dirige com o pau...que quer seduzir os atores e atrizes que contrata....
Tem de tudo.
É difícil não se deslumbrar um pouco com o sucesso, quase todo mundo é vítima disso, mas sempre tem a queda pra dar uma chuveirada gelada no desavisado. Uns acordam bem e voltam pra realidade,outros não admitem acordar e passam a inventar uma realidade...

NORMAL


Danielle: O projeto Terça Insana já foi alvo de preconceito por parte de atores de teatro mais experientes, que atuam com textos mais clássicos, por exemplo? Como o projeto vêm sendo recebido nesse meio?

Grace: Não sei, mas se foi eu não teria como responder pois ninguém costuma falar essas coisas na frente da gente, né?
Recebemos muitos incentivos, elogios e apoio de artistas de todas as áreas, são colegas que eu respeito profundamente como Miriam Muniz, Maria Alice Vergueiro, Fauze Arape, José Possi Neto, Cláudio Tovar, Millor, Lobão, Fernando Meirelles, Marcelo Tass, Cláudia Gimenez, Jorge Louredo...para citar alguns.
Mas nunca, nestes 6 anos recebemos uma indicação pra premio, ou honra ao mérito, ou matéria nas revistas da classe teatral, embora muitas pessoas responsáveis por estas indicações e pautas sejam atores envolvidos com instituições e estejam, agora, participando de projetos inspirados na Terça Insana. Isto parece indicar que eles gostam muito mas esqueceram de dizer.


Danielle: Como você seleciona os atores e autores que vão trabalhar no Terça Insana? Quais são os critérios?

Grace: Em primeiro lugar tem que ter opinião pessoal, criatividade e cultura.

TEMOS COMPROMISSO ARTÍSTICO COM:
-personagens originais
-abordagens inusitadas
-humor que revele a graça em situações inéditas.
-elegância e inteligência crítica sobre o contemporâneo,
-não reforçar preconceitos.

O QUE NÃO ENTRA NA TERÇA INSANA?
-Imitação
-Piada pronta
-Preconceito

POR QUÊ?
Ainda hoje, é constante a sensação de dejavú diante de muitas produções de humor.
Preocupadas em agradar o público, essas montagens copiam as formulas que julgam “populares”, contam as antigas e previsíveis piadas de sempre, onde as mulheres são gostosas e burras, ou velhas feias e fofoqueiras, onde todo homossexual é ridicularizado, onde negros são serviçais ou maus caracteres, onde eternamente se pratica a humilhação de anões e de pessoas humildes.
Este é um humor arcaico, covarde, pobre em auto-critica, que ignora os avanços filosóficos, científicos, sociais, inventa e institucionaliza preconceitos.
O que há de engraçado na sexualidade de alguém? E em ser anão? Ou estar fora dos padrões estéticos impostos pela mídia?


Danielle: Temos notícias de que você criou cerca de 39 personagens. Existe uma pitada de Grace nesses personagens ou são o resultado de pura criação?

Grace: A maioria das minhas personagens é criada para ser porta-voz de uma opinião minha sobre algum assunto, pra defender um ponto de vista que tenho.


Danielle: Falando em personagens, a sua Cinderela passa longe da imagem de borralheira que espera que um milagre transforme a sua vida e traga de bandeja um príncipe encantado. Por quê você resolveu batizar essa mulher independente, dinâmica e empreendedora de Cinderela?

Grace: Em 1991 eu escrevi uma comédia “Não Quero Droga Nenhuma - a comédia”que falava sobre dependência química, trafico de drogas, corrupção, A Cinderela era a personagem central deste espetáculo solo que ficou em cartaz 5 anos.
Havia nos anos 70 um quadro no Programa Sílvio Santos que se chamava “Boa Noite Cinderela”onde meninhas pobres escreviam cartinhas contando sua vida de necessidades...geralmente a mais fudida era a ganhadora de muitos prêmios...
A personagem do meu espetáculo “Não Quero Droga Nenhuma- a comédia” era Maria de lourdes Pereira, menina favelada, filha de pai alcoólatra e mãe lutadora que acaba vencendo um desses concursos e ganha, na sua comunidade o apelido de Cinderela, vai crescendo e desenvolvendo sua DQ, usa todas as drogas e acaba se tornando a maior traficante do país.
Foi a primeira vez que alguém ousava falar abertamente sobre a doença chamada Dependência Química, dar a real sobre drogas sem julgar se tá certo ou errado, informar tudo sobre os diferentes baratos de cada droga e ainda lidar com este tabu com humor. Só em 2001 ou 2002 a TV abordou isso numa novela.


Danielle: “Sou surda-muda, minha amiga é cega e virgem, mas, mesmo assim, somos atrizes e estamos em cartaz. Vão nos assistir, pelo amor de Deus!”.
Esse foi o anúncio que você usou, no início da carreira de atriz, para sensibilizar transeuntes a irem assistir ao seu trabalho.
Na sua percepção, o que funcionou melhor como chamada? Ser surda-muda ou cega e virgem?

Grace: O que funcionou foi o inesperado, darmos uma nova cara, outra leitura pra uma coisa séria que acontecia sempre (as pessoas deficientes distribuíam estes flyerzinhos pedindo grana). A graça estava no “virgem”como deficiência física.


Paula: O Rá tim bum era um programa diferenciado porque era divertido e educativo ao mesmo tempo. Hoje programas como esse têm um espaço cada vez menor na tv aberta. Qual a sua opinião sobre os programas infantis atuais da tv aberta?

Grace: Não assisto TV. Me orgulho profundamente de ter participado de um projeto tão perfeito na sua meta sócio-cultural como o Ra-tim-bum, pois a TV é uma concessão do estado para levar cultura e diversão para o público. Deixei de ver TV a muito tempo.Pra que ditadura militar se a gente tem redes de televisão?


Danielle: Em uma de suas entrevistas, você afirma que o humor, se trabalhado com inteligência e elegância, funciona como um KY (lubrificante) para alguns assuntos que são tabus, para que eles possam ser discutidos mais facilmente.
Na sua opinião, o atual cenário político brasileiro vêm estimulando o uso de KY ou algo mais radical, como chicotes, alargadores e bofetes?

Grace: Em primeiro lugar essa gente que se candidata a viver de política não me representa. Não sei quem são, nunca convivi. Como posso eleger como meu porta-voz. Vcs conviveram com eles tempo suficiente pra escolhe-los ou votaram através da informação na mídia. Foi através da propaganda?
O cenário atual é o retrato dos últimos capítulos do “120 dias de Sodoma” do Marques de Sade. O livro tem o “ciclo das paixões assassinas”. Somos os escravos, eles os senhores. Neste momento ninguém mais entre os senhores precisa tentar nos violar, isso já foi feito.nem lembram de KY.
Alargadores e chicotes são coisas que eles utilizaram em nós, mas que fazem parte de ciclos passados. Estamos sendo assassinados com requintes de tortura pra que eles possam gozar, eles se deliciam com cada olho, com cada clitóris arrancado a sangue frio, de cada um de nós.


Morgs: Você concorda com a afirmativa 'A Liberdade é uma comédia aos sábados'? Por que?

Grace:
Concordo. Adoro.

Vou deixar que o mestre poetinha, aqui abaixo, responda por mim o porquê.

"Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado....."
(etc.......)


Vinicius de Moraes


Danielle: Você acredita em tudo o que mescla sexo, gastronomia e música de qualidade ou acha que essa tríade é mais um besteirol americano?

Grace:
Se vc afirma que existe isso, eu talvez deva acreditar na existência...Mas não conte comigo pra ir conferir...detesto repetição de fórmulas que deram certo...”este tipo de coisa não me representa”.
Vamos criar.


Valeu pela entrevista, Grace Gianoukas! Fica a nossa dica, para quem mora em SP: Vão conferir o Terça Insana que é muito legal. Para quem não mora em SP, procurem o DVD ou torçam para que a sua cidade seja incluída na turnê do grupo. Eu já estou torcendo!

Que Legal!

Site da Terça Insana