sábado, 1 de dezembro de 2007

Me encontra



Adoro sentar na parte de trás do
ônibus (do tipo que tem aquela
sanfona no meio, ligando os dois carros)
e observar a parte da frente
quando ele faz a curva.

Adoro sentar no primeiro banco do trem
e observar os trilhos e a paisagem, pela janela,
quando ele faz a curva.
Sempre quis, por isso, andar na
cabine do maquinista.

Não gosto de andar de barco.
Nunca andei de avião.
Adorava andar de carroça,
mas agora meu avô a desmanchou
por que ele não quer mais criar bois.

Gosto de caminhar quando
não tem sol durante a primavera
(por que tem muitas árvores floridas)
e aquele ar que só eu reconheço
sopra e eu respiro ele, bem feliz.

Então, mesmo se um dia eu fugir,
será fácil me achar.



* Imagem: Detalhe de "La ciudad adormecida", de Jorge Macchi. Fotografia de Néfer Kroll.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Nicholas era...


mais velho que o pecado e sua barba não podia ficar mais branca. Ele queria morrer.


Os anões nativos das cavernas do Ártico não falavam sua língua, mas chilreavam na deles e realizavam rituais incompreensíveis quando não estavam trabalhando nas fábricas.


Uma vez por ano, forçavam-no, aos prantos e sob protestos, pela Noite Sem Fim. Durante a jornada, permaneceria ao lado de cada criança do mundo, deixando um dos presentes invisíveis dos anões ao pé da cama.


As crianças dormiam, congeladas no tempo.


Ele invejava Prometeu e Loki, Sísifo e Judas. Seu castigo era mais sombrio.


Ho.
Ho.
Ho.


Nail Gaiman