quinta-feira, 30 de agosto de 2007
A infância acabou.
A infância acabou.
Mataram-na. Ou estão matando-a pouco a pouco.
Dia após dia eu vejo pais e mães sendo cruéis e ignorantes o suficientes para encherem suas filhas de salto alto, saia curta, batom vermelho , e levá-las prum dia de beleza no salão em seus aniversários de 4 anos de idade. Achando "bonitinho" a filha ralando o Tchan.
Dia após dia vejo mães intragáveis instigando seus filhos de 8 anos , que ainda estão na fase AIQUENOJOQUEEUTENHODEMENINA a beijarem, a ficarem, a abraçarem , a imitarem o que o personagem da novela está fazendo. Inocentes e desinformados que são, acham que o que a mãe diz é certo, e acabam fazendo não por vontade adquirida pelo próprio crescimento, e sim porque é aquele pensamento do "mamãe me disse assim".
Porque graças a Deus que eu já fui criança. Ainda bem que na minha época ser criança não era ter celular , alienar os ouvidos num mp3 alucinante ou ficar criando perfil no Orkut. Não que essas coisas todas sejam ruins. Mas elas têm idade para isso.
E na minha época (e nem faz tempo tempo assim, huh?) a idade da infância era a idade de brincar, pura e simplesmente. E todas aquelas brincadeiras eram realmente um mundo mágico, uma alegria em cores pastéis. Você ia pra escola, e não havia obrigação nenhuma , o mundo era só você, seus amiguinhos e sua família. Você ia pra escola e tinha nojinho do sexo oposto, e se rolava uma paquerinha, era aquele bilhete que você fez pro menino e que um dia na feira de Ciências da sua escola a mãe do menino chegou na sua mãe e disse "meu filho guardou o bilhete dela até hoje". E isso era tão... ! E sua preocupação era apenas saber , quando você fosse pro parquinho, se o balanço ia estar vazio - se você ia poder comandar o gira-gira, se você seria a Princesa Ariel. Quando você chegava em casa era só tomar banho e ver aqueles desenhos todos - desenhos que me instigam até hoje, se eu pensar na profundidade que era um "Animais no Bosque dos Vinténs". Aquelas raposas eram todas muito sérias para mim. Elas sempre tiveram , na minha mente, um mistério filosófico sobre o que é na verdade a infância. As raposas eram o enigma. Era como se aquele mundo infantil, aquele mundo despretensioso e mágico, discretamente guardasse a resposta da verdadeira felicidade, aquela verdadeira felicidade que a gente vivia quando era pequeno e que agora esquecemos muitas vezes que ela existe, nesse estresse em que estamos inseridos.
Todos esses desenhos, um Peter Pan jogando pó sobre a cabeça das crianças, um fantoche colorido, um balanço, os lápis de cor , aquele boneco quebrado - são pequenos mistérios sagrados. Parecem de alguma forma, em seus olhares parados de brinquedo, guardar dentro deles um segredo: o segredo de ser feliz.
Porque na verdade eu sempre achei que toda felicidade tinha um pouco de criança. Tomar sorvete, ver televisão, dançar, brincar com o amigo, abraçar, sonhar, beijar, fazer tranças e puxar cabelo. Viajar pra Peruíbe ouvindo "Success" do Iggy Pop e vendo a borda do mar ao longe , sentir o vento no rosto e acreditar. E rir. Rir muito! Rir! Fazer pose. FANTASIAR.
Pensando bem, toda felicidade tem um tudo de criança.
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Paula
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