quarta-feira, 25 de julho de 2007

O Anel (parte 3/20)



Rosana era, como alguns gostavam de chamar, uma perua. Aquele tipo de mulher que nasceu, cresceu, vive e morrerá protegida, seja pelo pai, pelo marido, pelos filhos ou pelos seguranças.

Pois aconteceu que um dia a vida de regalias a cansou. Uma atitude de quem sempre conviveu com isso, pois poucas pessoas pensariam em abandonar tudo o que ela tinha desse modo. Ela não o faria por completo. Mesmo porque, ela não tinha nenhum grande talento, nunca precisou fazer nada, e, francamente, nuca teve o interesse. Isso até aquele dia.

Bem, ela não teve um acesso de criatividade e pintou uma obra prima, ou uma luz de inteligência e corrigiu a teoria da relatividade, mas saiu para dar uma volta. Sozinha.
Foi engraçado, mas bonito: ela colocou uma roupa de gente qualquer, ficou sem maquiagem ou penteado como gente qualquer, e saiu na rua, como gente qualquer. No começo, estava fazendo todo o show para impressionar o marido, e provar um ponto qualquer, mas qual não foi sua surpresa quando percebeu que gostava daquilo, de ser incógnita por uns instantes.
Começou a fazer os passeios duas ou três vezes por semana, como uma aula de tênis ou inglês, e foi num desses passeios, ou melhor, comendo um misto quente, que conheceu Caetano, um rapaz muito gentil, que logo se tornou seu amigo.

E que logo descobriu que ela não era o que aparentava ser, que ela era a dondoca da mansão no fim da rua. Isso não o incomodou. Bem, talvez um pouco, mas não o suficiente para mudar nada na amizade deles.
Aconteceu que numa linda manhã no parque, enquanto conversavam sobre como os pais guiam seus filhos por uma geração passada e como os passarinhos cantam de acordo com sua espécie, essa amizade virou algo mais. É, e ela era casada... Não sentia peso na consciência nem culpa, e tampouco o moço, pois achavam que o que havia ente eles era belo demais para ser mau.
Saíam juntos sempre e, por mais estranho que fosse, Caetano, ou Seu Caetano, como era chamado nessas circunstâncias, virou o faz-tudo da família Almeida. Na verdade, foi um jeito que os amantes acharam de passar mais tempo juntos.

Ninguém desconfiava de nada, e assim se passaram dois lindos anos. Ao fim desse tempo, era a hora da filha mais velha de Rosana, Manuela, se casar. A cerimônia seria na casa deles, e os preparativos estavam sendo feitos a todo vapor. Tudo correu perfeitamente bem até o dia do casamento, que seria no dia, três anos depois, que os noivos haviam se conhecido. Estava Rosana a admirar o vestido de sua filha, bem guardado em um dos quartos da casa, quando entrou Seu Caetano, para “arrumar uns encanamentos no banheiro”.

Entrou no quarto, fechou a porta, se dirigiu ao banheiro e abriu sua caixa de ferramentas. Só que de dentro dela não tirou nem uma chave de fenda nem um alicate, e sim uma garrafa de vinho com duas taças. Ele e sua amada brindaram não se sabe bem a que, e no que tomavam o vinho um do copo do outro, tentando imitar cenas de filmes antigos, Rosana sem querer inclinou demais sua mão e derramou metade do copo em cima do vestido da filha.
Ficou todo manchado e ela não sabia o que fazer, sentia vontade de chorar pela estupidez do que tinha feito. Passou-se um tempo em completo silêncio, até que ela resolveu ir consertar o vestido.
Pegou a saia, que era a parte manchada, e saiu São Paulo inteira atrás de um lugar que pudesse fazer algo em tão pouco tempo. Procurou por uma hora e meia e acabou numa casinha perto do centro, onde conseguiu, pagando um preço um pouco acima do padrão, que alguém fizesse outra saia, tentando usar os tecidos da original.

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