sexta-feira, 6 de julho de 2007



Atenção: este texto era duas vezes maior do que aparecerá aqui, e eu resolvi cortar o início, que falava sobre a vida aos 15 anos, e passar direto para o "hoje".

Quando se tem 15 anos, os sonhos são grandes, as expectativas maiores ainda. Almeja-se chegar aos 18 logo, para poder dirigir. Espera-se já ter ingressado na faculdade, onde todos os garotos são lindos, e as festas enormes e maravilhosas, como nos filmes americanos.

(...)

Quando se tem 15 anos, sonha-se em ser um jurista famoso, modelo internacional, ator, astronauta. A maior ilusão é a de que a faculdade será a coisa mais maravilhosa do mundo, e que até lá já se tem certeza do que se quer.
Chegando aos 18, dirigir perde a graça; não se sabe o que se quer da vida; e a faculdade é, na grande maioria das vezes, frustrante. Os sonhos diminuem até se tornarem coisas tangíveis – passam, por exemplo, de “ser um cientista” a “ser aprovado em cálculo B” – e os garotos são só garotos, não mais homens lindos, galãs.
Sair no final de semana é algo comum, não existe a parte divertida da mentira inocente, falsificação de carteira de identidade para entrar em boates, aquela adrenalina toda.
Beber nem tem mais graça. Às vezes a situação é tão triste que se chega ao ponto de nem querer sair por estar cansado das provas, das noites viradas estudando anatomia, das tardes intermináveis em pé no laboratório quente e com cheiro enjoativo.

Os pais querem que os filhos se formem logo e tenham um emprego bom – o que será praticamente impossível no início da carreira (e se sonha sair da faculdade ganhando 5mil reais por mês, quando se tem 15 anos) – os amigos foram estudar longe, o ‘amor’ adolescente já nem existe mais.

Finge-se que isso tudo é mentira, tenta-se achar argumentos... Mas todos são inválidos. Mente-se pra si mesmo que “a faculdade é só um pedaço da grande estrada para o sucesso”, tenta-se enfiar na cabeça que ter liberdade é muito melhor, e blá blá blá...
A realidade é que o mercado de trabalho atual é uma merda; a liberdade, quando alcançada, é uma merda; não precisar implorar vinte reais para os pais é uma merda. Tudo perde a graça, consequentemente, tudo é uma merda.


Quando você fizer 18 anos lembre-se: ainda existem montanhas-russas, tobogãs e muito chocolate. Eu, se fosse você, fingiria, de vez em quando, ter 15 anos de novo.
Vale até esquecer o RG em casa e ter que falsificar um.


Samya, que teve coragem de largar a vida e começar de novo, academicamente falando.

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