quinta-feira, 5 de julho de 2007

O Emprego como patente da moral do homem contemporâneo


Quem vos fala é um boêmio vagabundo, alocado nessa posição por decisão própria, na qual é implícita a escolha de buscar um trabalho digno, que executaria com vontade, paixão e por necessidade de sobrevivência, claro, ao invés de aceitar o emprego mais próximo e financeiramente mais vantajoso.

Essa fala pode fazer refletir alguns poucos trabalhadores e incomodar furiosamente muitos empregados. Os afogados no emprego estão pensando – Com que repertório um vagabundo tem a ousadia de tagarelar sobre minha atividade para ganhar dinheiro? – Pois digo que esse repertório só é possível graças ao crucificado ócio que muitos classificam como não digno.

Ah! Essa parte merece algum destaque, pois foi com o disponível ócio que o autor conseguiu estudar e passar no vestibulinho, e posteriormente no vestibular, que o possibilitou cursar o ensino superior; e foi lá, lugar que assistiu às aulas da prazerosa disciplina de Teoria Geral dos Sistemas onde aprendeu que o ócio, juntamente com o fogo, possibilitou que o homem chegasse a ter sua capacidade intelectual atual de pensar e questionar.

Foi também através da disponibilidade do ócio que o autor pôde produzir esse texto, e é assim que ele utiliza parte de seu tempo livre; abrangendo sua capacidade de pensar; de raciocinar; de questionar e crescer.

Outra habilidade que o ócio pode proporcionar é a capacidade de usufruir e direcionar um olhar acadêmico até mesmo para lugares mais descontraídos, como é o caso desse espaço em que o texto está sendo publicado.

Enquanto sua prioridade de trabalho que será também sua atividade para ganhar dinheiro, seu emprego, ainda não é alcançada, pois testes futuros serão necessários para conquistar tal desejo, o autor sente-se na obrigação de absorver e criar algo que o faça crescer a alma e o intelecto, dele e das pessoas que o cercam também, isso almeja ao criar esse texto.

Pois bem, caro colega, agora pergunto: Como utiliza o teu tempo livre, o teu ócio? Não posso adivinhar tua resposta, mas posso relatar o cenário: centros comerciais lotados e centros culturais vazios. Imagino também que alguns vão me dizer que não possuem tempo, pois o emprego e as atividades cotidianas o tomam por completo.

Então digo como faz um vagabundo pensador: ele sobrevive priorizando os valores humanos ao invés das atividades comerciais (já que vagabundo não tem dinheiro pra gastar) além de perceber que o tempo está cada vez mais curto (ou o volume de informação e atividades é que aumenta) até mesmo para desempregados – tal pensamento não é complexo, mas exige tempo ocioso para ser formulado. Assim, deixo vagar a pergunta: Qual a tua prioridade?

Para terminar, devo explicitar que meu objetivo através dessa reflexão é exaltar o orgulho de quem trabalha; não degradar o de quem tem emprego. Penso que tal orgulho deve existir e faz parte da natureza do homem, mas o “mal de brasileiro” é querer obter vantagem de tudo, até mesmo de sua condição, e isso não pode acontecer, pois deveríamos nós todos ter vontades, diferenças, deveres e direitos preservados.

(Texto dedicado aos cidadãos da classe média e aos acima dela, orgulhosos da sua condição e aos playboys que simulam trabalho estando empregados na empresa do pai)

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