sexta-feira, 13 de julho de 2007

O Anel (parte 2/20)



Sílvia era uma linda jovem, 20 anos, que morava em Salvador. Era a melhor amiga de Flávia, que era a namorada de Pedro. Homem bom, porém frio.
Quando o casamento entre os namorados aconteceu, Sílvia foi madrinha. Dois anos depois, Pedro teve que se mudar para São Paulo, e obviamente levou junto sua esposa. Esta, para não se separar da melhor amiga, levou-a junto também. Moravam os três numa bela casa perto do centro e era uma família muito feliz, e por incrível que pareça, sem ciúmes.

Sílvia nunca se casou, talvez porque estivesse muito ocupada dirigindo a casa, já que ela era uma espécie de governanta, ou talvez porque se sentisse satisfeita com a forte amizade e amor que sentia por Flávia e seu marido. Aconteceu que num triste inverno, Flávia pegou uma grave tuberculose, e conviveu com esta durante aproximadamente um ano, até o limite de seu corpo. Acabou por morrer.

Sílvia e Pedro ficaram tremendamente abalados com o acontecimento, e passaram quase um ano de luto, chorando pela perda. Só apenas depois de passado o um ano, voltaram a viver suas vidas normalmente, cada um fazendo sua parte para tentar se equivaler à falta que Flávia fazia.

E como são essas coisas da vida, acabaram apaixonando-se um pelo outro, e no verão seguinte, casaram-se. Viveram praticamente todo o resto de suas vidas felizes, até chegar outro inverno maldito, no qual foi a vez de Pedro adoecer e acabar por morrer.
Sílvia ficou totalmente sozinha e sem dinheiro, pois enquanto vivo, era o Pedro que a sustentava, então teve que se recompor e pensar num jeito de se manter. Pensou. Poderia costurar, afinal, sempre havia sido boa nessas coisas.

Começou a fazê-lo, em sua casa mesmo, e por ser boa no oficio, começou a ganhar dinheiro e encomendas, até o ponto em que não poderia mais fazer tudo sozinha, e contratou uma ajudante. Ela ia a sua casa uma vez por semana para ajudá-la nas atividades mais engenhosas.

Não era uma mulher sozinha, pois sempre tinha gente entrando e saindo de sua casa, seja por favores, serviços ou visitas que faziam um ao outro, mas era, com certeza, uma mulher solitária.

Aconteceu que um belo dia estava ela com sua ajudante a costurar quando chegou uma moça com uma encomenda urgente de uma saia branca. Seria melhor se tivesse mais tempo para fazê-la, mas a mulher garantiu pagar o dobro do preço se fosse feita na hora. Graças a Deus a minha ajudante está aqui! Pensou. Começaram fazê-la, como máquinas, e conseguiram acabá-la.

Paga, a assistente foi embora, e satisfeita, a mulher também. Tinha acabado de ganhar uma bela quantia de dinheiro, e achou que merecia jantar fora, coisa que não fazia desde que o marido havia falecido.

Arrumou-se e foi, sozinha mesmo. Sentia muita falta da amiga e do marido, especialmente nessas horas em que costumava ter a companhia dos dois.
Comeu num restaurante perto de sua casa, e lá, presenciou uma estranha cena. Um homem, moço, jantava com dois senhores. Até aí não estranhou, mas se incomodou como o alto volume em que conversavam. Mais ou menos no meio do jantar, o homem moço passou um bolo de notas para um dos senhores e o outro passou ao moço uma sacola. Não era possível ver o que estava na sacola, mas bom não devia ser, pensou.

Continuou sua refeição, sem mais pensar na cena que havia presenciado, quando uma ambulância passou, e em seguida um carro de polícia, que parou no restaurante, entrou, sem a menor cerimônia, e foi direto para a mesa dos homens. Começaram a algemar o mais moço, quando um dos senhores puxou uma arma e atirou.

Não viu mais o que aconteceu porque havia sido puxada para baixo da mesa, mas ouviu tiros, gritos, a sirene do carro de polícia e por fim o silêncio. Absoluto.

Só então que pode olhar para o lado e ver quem a tinha protegido. Era um moço, devia ser uns vinte anos mais novo que ela, pensou, de pele escura como a noite, que sorria com dentes brancos como a luz.

Obrigado... Foi tudo o que ela conseguiu dizer, estava um tanto assustada. Ele nada disse em relação a isso, mas perguntou onde ela morava, a levaria para casa. No caminho, contou que se chamava José, e que era garçom do restaurante. Era pernambucano. Não gostava de trabalhar como garçom, dizia ser um poeta. Deixou Sílvia em casa e sumiu pela noite.

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